ainda que mais de cem mil homens

Salmo 56 - livro VI

O Senhor nos livra

do pastor que não conhece as suas ovelhas,

das declarações genéricas dos lobos,

feitas de regras para controlar a vida alheia,

dos lobos se alimentam de autoridade e coerção,

da proliferação de regras de controle da intimidade.

O Senhor nos livra do totalitarismo

de quem não nos chama pelo nosso nome

e devolve em nossas mãos

a decisão sobre as nossas próprias vidas,

a dignidade de dizer o que queremos dizer

e a graça de fazer o que Ele pede façamos.

O Senhor nos livra

de edifícios simulando igreja, feitos de manuais

tão detalhados que nada resta ao povo além de

comprar bugigangas nas banquinhas

da fé transformada em comércio.

O Senhor nos livra das heresias

e devolve em nossas mãos

a mensagem que constitui o coração do Evangelho,

o perdão dos pecados de quem busca o perdão.

O Senhor nos devolve a fé que não precisa de quinquilharias.

O Senhor nos livra de muitos males sórdidos

e de revivê-los como um espetáculo da má sorte.

O Senhor nos livra de ser estrela da própria morte.

E nos faz admirar e agradecer a companhia dos pássaros

a atenção dos anjos, a vida surgindo onde não havia vida.

O Senhor nos concede o dom da palavra boa,

da ação de graças e do louvor ao que é sagrado,

o sentimento de amor que nos regenera e purifica.

O Senhor nos concede a presença de Sua família.

O Senhor invade o que simula revelação,

a notícia falsa que se apresenta como verdadeira,

o crime de falsificação que pretende causar dano

para encerrar no domínio frustrado a inocência.

O Senhor invade o domínio da mentira

e do que é falso faz brotar o sabor delicioso da verdade.

Ainda que mais de cem mil homens tolerem a mentira,

o Senhor fará cobrir os mentirosos com a luz do dia,

com um verdadeiro lamento e profundo arrependimento.

O Senhor nos conduz pelo bom caminho,

Ele nos ensina a dar passos que nos revigoram.

E ainda que alguém não O rememore,

celebrando pão como pão e vinho como vinho…

O Senhor nos concede a experiência que não passa,

o que vivemos e nos serve a todo tempo,

o tempo eterno como um salário antecipado

dos sonhos e alegrias que Ele fez merecermos.

A. P. Arendt. Pastorinha. Salmos para meus Filhos.