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O amor e o espanto



Trago aqui aos leitores e amigos a declamação do poema "O amor e o espanto".


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O amor e o espanto

Ana Paula Arendt




Eu te amo como eu amo os passarinhos,

como eu amo desabrochar com meus dedos as flores;

a cidade trêmula de luzes pontilhadas,

os cadarços que não desamarram,

a brisa de uma noite perfumada,

o burburinho de pessoas em uma festa,

as chispas de chocolate que estalam na boca,

o merengue do bolo de aniversário

e a crosta crocante do pão.


Eu te amo como eu amo o domingo

feito de cheiro de piscina,

as borbulhas de champagne no nariz;

como o barulho das crianças correndo,

como o som da borracha das chuteiras

serpeando na quadra do ginásio.


Eu te amo como eu amo

o confete que jogam nos meus cabelos

durante o auge da marchinha de carnaval.

Eu te amo igual eu amo

o barquinho de papel que deixei no lago.


Eu te amo como eu amo as coisas mais simples da vida!


O ser humano inventou o amor pelo ser humano

incondicional, mas feito de amostras e de provas,

da escalada que supera o muro íngreme,

da resposta retardada ao sinal emitido,

o feito de angústia e de nos perfurar anúbis.


O ser humano inventou o amor pelo ser humano

cheio de dogmas, de teogonias e de firmas,

de vasos cheios de verdades planejadas

para acontecer nos olhos dos outros.

Para testar a hipótese de que o amor não exista,

assumimos o tempo inteiro que não exista e

estamos sempre em dúvidas…


Enquanto isso amamos os animais,

os gatos e os cachorros.


Não criticamos as rosas brancas do jardim

para que mudem de cor e provem que nos amam.


As pessoas dizem que isso é gostar, e não amar;

que uma pessoa se ama, e não se gosta.

Mas gostam das coisas simples, e

não conseguindo alcançar o amar,

não gostam do ser humano...


Eu sou poeta!

E eu não gosto:

eu amo.


Se eu amo tudo isso, por que não te amaria?

Eu te amo, porque és feito de minha mesma matéria,

da mesma matéria que é feita o pássaro, a flor, a pedra.

Da mesma matéria que faz brilhar no céu a estrela.

Da mesma matéria que é feita a cachoeira

e o curso de água que me descansa os ouvidos.


O teu sorriso para mim é

como ver pela primeira vez o mar.


Ninguém deixa de olhar para o mar

pela primeira vez sem espanto;

sem sentir qualquer coisa de sal no peito.


Está espantado que

nem te conheço e te digo amor?

Está espantado que

eu te ame mesmo face ao teu desprezo

e continue te amando

mesmo que ignores

a enorme força e desprendimento

necessários para te amar?

Eu amo também esse espanto.



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